Por Lucas
Borba
A convite da
Paramount, compareci à cabine de imprensa de Babilônia, novo filme do diretor Damien Chazelle que chega aos cinemas brasileiros nesta
quinta-feira, dia 19 de janeiro. Primeiramente, pois, agradeço a Paramount pela
oportunidade e, em segundo lugar, como sempre fazemos aqui no Domínio Acessível,
destaco que o longa felizmente entrará em cartaz com recursos de acessibilidade
– incluindo audiodescrição, uma narrativa em off que descreve os elementos
visuais da obra para pessoas com deficiência visual, como eu próprio.
A trama nos
apresenta a um retrato tão fiel quanto aparentemente exacerbado de Hollywood no
final da década de 1920, em plena transição do cinema mudo para o cinema
falado. Personagens em sua maioria fictícios, porém baseados em figuras
verídicas, protagonizam representações dramáticas do que de melhor e de pior se
fez naquele período em Los Angeles em nome da sétima arte com seres humanos sem
as quais o cinema nunca existiria, do alto do mais belo pico até as profundezas
do poço mais sombrio. Personagens como a jovem Nellie LaRoy (Margot Robbie),
determinada a manter seu estrelato ao migrar de modelo cinematográfico; o astro
do cinema mudo Jack Conrad (Brad Pitt), que vê a sua carreira ameaçada pelas
novidades do mercado; e o jovem imigrante mexicano Manny Torres (Diego Calva), um
faz-tudo com a ambição de ascender em Hollywood. No filme, essas e outras
personalidades testemunham eventos e vivenciam experiências que, em grande
medida, são referências a eventos que de fato ocorreram com nomes marcantes da
época – para saber mais, leia o nosso texto de curiosidades do longa clicando
neste link.
Por um lado,
Chazelle expõe toda a depravação de festas regadas a orgias, drogas e
excentricidades fetichistas dignas da própria Babilônia, ao mesmo tempo que,
inteligentemente, evidencia por um viés muito mais psicológico todo o dano do
abuso impingido por um ambiente como aquele, não apenas às atrizes e a
profissionais vítimas de segregação, mas também a elencos e figurantes imersos
em condições insólitas de trabalho, com dinâmicas exigentes e realistas a tal
ponto para a filmagem de certas cenas que mortes acidentais ou por exaustão
eram frequentes. Por outro, o diretor retrata de forma orgânica toda a
imponência resultante daqueles tipos de produção, que construíam cenários
monumentais, encenavam grandes batalhas e sequências de ação mirabolantes com
armas e acrobacias de verdade, quase sem dublês e sem as facilidades da
computação gráfica. Á medida que as mais de três horas de história avançam,
contudo, observamos o constante crescimento do cinema falado enquanto a
depravação explícita vai sendo gradualmente substituída por um falso moralismo
em que o abuso se torna velado – uma clara alusão narrativa ao Código de
Produção de Cinema, que imperou nos Estados Unidos de 1930 a 1968 - um conjunto
de normas morais aplicadas a filmes lançados por grandes estúdios
cinematográficos que, na prática, serviram apenas para limitar as narrativas a
uma ótica preconceituosa ao extremo, pouquíssimo representativa e deveras
distante da realidade.
Embora este
seja muito mais um filme sobre um recorte histórico do que sobre personagens –
a não ser que se considere o recorte em si como o personagem principal -, além
da técnica, ótima ambientação e trilha sonora, a força da obra certamente
reside no elenco, com atuações intensas como a de Margot Robbie e realistas
como a de Brad Pitt. O longa é pontilhado por sequências impactantes e cheias
de significação adequadíssimas para o espaço de tais atuações, como uma cena
que retrata a dificuldade para se gravar certa fala em uma filmagem, uma
segunda passagem envolvendo uma cobra no deserto e uma terceira, durante uma
festa de gala. Passagens como essas com certeza cumprem muito bem o seu papel
como importantes marcos junto ao todo e, ao final da exibição, a duração da
obra definitivamente me soou cirúrgica para a narrativa apresentada.
Com uma
belíssima homenagem ao cinema nos minutos finais servindo de epílogo – que,
dado o recorte histórico, não poderia ter escolhido como base para tal
declaração de amor um filme melhor do que o clássico “Cantando na Chuva” (1952)
-, Babilônia se encerra com um otimismo mágico, pela magia do próprio cinema, como
um lembrete do que de mais belo se pode ser preservado por cada geração às que
virão depois, e de tudo o de mais sombrio que, como nas melhores histórias, só
não devemos esquecer para nunca repetir.
Nota: 3,5/5
“Babilônia”
(Babylon), EUA, 2022.
Direção: Damien
Chazelle.
Roteiro: Damien
Chazelle.
Duração: 189
minutos.
Lucas Borba
é jornalista e cocriador do Domínio Acessível. Atua como audiodescritor
consultor para empresas como ETC. Filmes, Lexx e Little Brown Mouse e é autor
dos romances “Flores” e “Você e o fim do mundo”, publicados pela plataforma
Clube de Autores. Desde a infância é apaixonado pelo cinema e por quaisquer
formas narrativas que permitam contar as melhores histórias.
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