Pular para o conteúdo principal

Crítica | "Oppenheimer" (2023)

No centro do cartaz está o ator Cillian Murphy, visto de frente no papel de J. Robert Oppenheimer. Ele é um homem branco, magro, de olhos azuis, que usa chapéu marrom, camisa cinza, paletó marrom e gravata preta. Ele olha para frente, sendo visto da cintura para cima com as mãos nos bolsos da calça, também marrom. Atrás dele, ao fundo, está a fumaça alaranjada da explosão de uma bomba. Na parte inferior lê-se "Christopher Nolan" em letras brancas maiúsculas e o título do filme "Oppenheimer" em letras laranja maiúsculas.
Cartaz nacional do filme "Oppenheimer"(2023), de Christopher Nolan.

Por Vanessa Delfino

O filme "Oppenheimer" (2023), do Christopher Nolan, estreou dia 20 de julho, junto com "Barbie"(2023), da Greta Gerwig, e ambos os filmes já são verdadeiros marcos do cinema. Juntos, eles arrastaram milhões de pessoas às salas de cinema do Brasil e do mundo e o mais legal: como parte da muito bem-sucedida campanha de marketing, muitas pessoas foram assistir a ambos no mesmo dia (inclusive nós, Lucas e Vanessa). Lembrando que "Barbie" tem duas horas de duração e "Oppenheimer" tem três. Ou seja, são cerca de cinco horas dentro de uma sala de cinema e as pessoas estão indo, mesmo com a gente vivendo na era do streaming. Nada que bons filmes e uma boa campanha de marketing não possam fazer, não é?

Mas vamos a Oppenheimer: o filme é realmente bom?

Sim. "Oppenheimer" é, sem dúvidas, uma obra de arte cinematográfica. Com certeza, já pode ser considerado um dos grandes filmes do Christopher Nolan e certamente ganhará muitos prêmios, tanto na parte técnica quanto nas atuações. Não tem uma atuação ruim nesse filme, sequer meia-boca: todas são fenomenais, fazendo com que tenhamos sentimentos variados por cada um dos personagens, mesmo os que menos aparecem, como é o caso principalmente das personagens femininas. Sobre isso, aliás, é importante dizer que Nolan escreveu o roteiro em primeira pessoa, para que tudo o que víssemos no filme fosse do ponto de vista do Oppenheimer. Portanto, esse é um filme biográfico que já desafia as convenções da própria biografia: J. Robert Oppenheimer, o brilhante físico que criou a bomba atômica, não conta a própria história, mas o que vemos é do ponto de vista dele. Nós sentimos o que ele sente e imaginamos o que ele imagina e toda essa parte emocional é realçada pela trilha sonora e pelo design de som, que simplesmente nos jogam pra dentro de um turbilhão emocional que é a explosão-teste da bomba e as cenas do julgamento de Oppenheimer, acusado de comunista. Isso, aliás, é um ponto positivo do filme, que mostra o quanto a ideologia política de Oppenheimer o guiou para a criação da bomba, já que o objetivo a princípio era impedir que os nazistas tivessem tal poder, e como essa mesma ideologia o fez entrar em conflito depois com o governo americano, que o usou, colocando ele como herói que tinha "acabado com a Segunda Guerra Mundial", só para depois demonizá-lo por sua ligação com comunistas.

O rosto de Oppenheimer, homem branco, é visto de perfil à esquerda olhando para um buraco em uma parede à direita, por onde ele assiste à explosão-teste da bomba atômica. Ele usa óculos escuros e há um clarão sobre o rosto dele.
Cena do filme em que Oppenheimer assiste à explosão-teste da bomba atômica

Quanto ao som e à trilha sonora, esses dois são grandes personagens coadjuvantes da obra. Quem puder, veja o filme em uma sala IMAX, onde o som é intensificado de forma a fazer a gente sair tremendo e com o coração na mão em alguns momentos. São elementos que enriquecem o enredo, mexendo profundamente com nossas emoções e tornando a experiência cinematográfica mais imersiva. Aliás, é interessante como Nolan consegue nos fazer sentir os sentimentos do protagonista Oppenheimer sem, ao mesmo tempo, fazer com que nós tenhamos pena dele pela perseguição que ele sofreu. Oppenheimer é uma figura controversa, que pode tanto ser visto como um herói quanto como um vilão, dependendo do ponto de vista, e o roteiro aborda essas nuances, sem necessariamente pender mais para um lado ou para outro, deixando a interpretação para o público.

Outro ponto a ser falado é a polêmica em torno do fato de que Nolan não mostrou a bomba atômica explodindo em Hiroshima e em Nagasaki. Mas ele mostrou algo bem mais impactante, que foi a discussão política - da qual Oppenheimer participou - sobre em qual cidade soltar a bomba. Essa cena por si só é de uma frieza tão grande que assusta mais do que se tivéssemos visto a explosão em si nas cidades em questão (embora vejamos um breve momento em que Oppenheimer tem uma crise de ansiedade e vê algumas pessoas se desintegrando). Além do mais, quem estiver interessado em saber mais sobre a explosão da bomba em Hiroshima e Nagasaki e as consequências disso, é só procurar no próprio cinema japonês: há diversos filmes e animes que abordam o tema, é até bom para conhecer o cinema para além de Hollywood e, nesse caso, feito por quem realmente viveu a tragédia.

Em relação ao que pode ser considerado um ponto negativo do filme é a própria estrutura narrativa que pode incomodar alguns. O estilo narrativo não-linear, que evita explicitamente datas e locais, pode ser confuso. O vaivém temporal e a alternância entre cenas em cores e em preto-e-branco são escolhas ousadas que podem desorientar. Segundo Nolan, as cenas em cores são subjetivas e as cenas em preto-e-branco são mais objetivas. Assim, a melhor forma de assistir a esse filme é com base na entrega total: apenas se deixe levar e se permita absorver tudo o que ele te dá.

Em suma, "Oppenheimer" é uma obra-prima que desafia e recompensa seu público. Seja pelo design sonoro magistral, pela narrativa não convencional ou pela corajosa abordagem de seu tema, é um filme que certamente será lembrado e debatido por gerações.

Sobre a audiodescrição

Assistimos ao filme via cabine de imprensa, a convite da Universal Pictures Brasil e desde já agradecemos muito pela oportunidade e também à Mobi Load, o aplicativo onde está a audiodescrição do filme. Ficamos imensamente felizes de saber que já na cabine de imprensa, que é uma sessão reservada para críticos de cinema, o filme estava disponibilizado com AD (porque geralmente os recursos de acessibilidade só chegam no dia de estreia do filme) e o melhor: na sala IMAX!


À esquerda está o cartaz nacional do filme "Oppenheimer" (o mesmo descrito no início dessa crítica), escrito "Disponível já no Mobi Load" acima. À direita lê-se: "mais um trabalho realizado", "Oppenheimer. Gênero: História, Drama, Biografia. Duração: 180 min". "Estreia nos cinemas: 20 de julho". "Baixe o app Mobi Load". "Assista ao trailer". Na parte inferior está o logo da Mobi Load e, à direita, a ilustração de uma claquete, um par de ingressos e pipocas.
Print da divulgação dos recursos de acessibilidade de "Oppenheimer" no aplicativo Mobi Load.

Não sei se todos sabem, mas assistir a um filme com recurso de acessibilidade, seja audiodescrição (que é o que fazemos uso), seja LIBRAS ou legenda descritiva, em uma sala IMAX era algo impensável, pois os recursos não funcionavam nessa sala em específico, impedindo que pessoas com deficiência visual, auditiva ou surdos pudessem aproveitar o melhor do som e da imagem que essas salas oferecem, principalmente quando um filme é gravado para ser exibido nesse tipo de sala, que é o caso de "Oppenheimer". Porém, para nossa enorme surpresa, a Mobi Load conseguiu fornecer os recursos em todos os tipos de sala e com excelente qualidade.

Como funciona o Mobi Load?

Primeiro é preciso baixar o aplicativo no seu celular, depois é só procurar o filme que você quer assistir no catálogo ou na aba "pesquisar" e baixar com o recurso que você deseja, seja na versão dublada ou legendada. O download pode ser feito no dia anterior, se assim a pessoa preferir. Depois, quando o filme começar, é só entrar na sessão "coleção", procurar o filme que foi baixado e esperar a sincronização acontecer!

Para nós, o recurso funcionou perfeitamente bem: não travou, não falhou e nem acabou com a bateria do celular, mesmo o filme tendo três horas! Ah, também não é preciso deixar o celular em modo avião quando se faz uso do aplicativo. Fora o fato de que o aplicativo é super simples e intuitivo.

Obs: Como aqui somos em dois - uma pessoa com e outra sem deficiência - podemos atestar que o filme realmente não indica lugares nem datas e isso não é uma falha da audiodescrição, como alguns podem pensar.

Novamente, ficamos muito felizes por descobrir mais esse aplicativo, pois foi a primeira vez que usamos, é fácil de manusear, funciona bem e tem um catálogo muito bom de filmes.

Considerações finais

Então é isso, galerinha. Por aqui gostamos bastante do filme, estamos com ele na cabeça até hoje e apenas aguardamos pela temporada de premiações para ver esse filme levar tudo o que vier pela frente.

Quem assistiu ao filme, o que achou? Assistiu com AD? Conta pra gente como foi a experiência.

Nota: 4,5/5

“Oppenheimer" (2023), EUA

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan

Duração: 180 minutos

Vanessa Delfino é beletrista e cocriadora do Domínio Acessível. Atua como audiodescritora roteirista para diversas empresas, focando no segmento audiovisual. Desde a infância é apaixonada por cultura, principalmente música e cinema.

Hashtags: #paracegover #paratodosverem #paratodomundover #paratodosveremmais #audiodescrição #descriçãodeimagem #descrevipravocê #acessibilidade #inclusão #cultura #culturapop #arte #audiovisual #recursosinclusivos #cinema #oppenheimer #universalpictures #crítica #christophernolan #hollywood

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica | Resistência (2023)

Cartaz do filme "Resistência" (2023) Por Lucas Borba “Resistência" (2023) é um filme que exemplifica como a ficção científica pode transcender suas raízes e se tornar uma metáfora impactante para os conflitos atemporais que marcam a história da humanidade, ao mesmo tempo em que dialoga com questões prementes da sociedade contemporânea. Não por acaso, histórias de viagem interestelar tinham um significado específico durante a Guerra Fria, mas continuam a fazer sucesso até hoje ao evocar o eterno fascínio humano pelo desconhecido, pelo inexplorado. Em “Resistência”, a trama mergulha de cabeça na discussão sobre Inteligência Artificial, um tema inebriante e urgente nos bastidores da indústria cinematográfica e na sociedade como um todo, enquanto também se apropria do eterno conflito humano com o diferente. No enredo, situado em um futuro distante em meio a um embate entre humanos e as hostes da Inteligência Artificial, somos apresentados a Joshua (John David Washington – si

Baile no Galpão

Dança típica de casal gaúcho      Por Vó Pema (Iracema Soares de Lima)      Jovenal, dono de uma estância com mais de mil cabeças de gado: um rebanho de ovelha a perder de vista.       Em uma manhã, antes do clarear do dia, Jovenal com os peões saíram, em uma campereada pelos campos. Tinha uma cerração fria, era começo da primavera. Aquela época em que os campos estão verdes e as flores rasteiras estão brotando em cores variadas de azul e amarelo. No horizonte, os primeiros sinais que a majestade, o sol, está chegando, vermelho com labaredas em formato de uma enorme bola de fogo. Passados alguns segundos a bola vai se transformando em cor de ouro, os raios começam a dar brilho: difícil de olhar para eles de olho nu. Maravilha criada por nosso Deus eterno, na campanha todas as manhãs, quando nasce o sol. Logo a cerração começa a baixar e o sol brilha.      Jovenal, cria da terra (para melhor entendimento, nascido e criado ali no campo), tinha experiência para saber se os rebanhos e o ca