Cartaz do filme "Resistência" (2023)
Por Lucas Borba
“Resistência" (2023) é um filme que exemplifica como a ficção científica pode transcender suas raízes e se tornar uma metáfora impactante para os conflitos atemporais que marcam a história da humanidade, ao mesmo tempo em que dialoga com questões prementes da sociedade contemporânea. Não por acaso, histórias de viagem interestelar tinham um significado específico durante a Guerra Fria, mas continuam a fazer sucesso até hoje ao evocar o eterno fascínio humano pelo desconhecido, pelo inexplorado. Em “Resistência”, a trama mergulha de cabeça na discussão sobre Inteligência Artificial, um tema inebriante e urgente nos bastidores da indústria cinematográfica e na sociedade como um todo, enquanto também se apropria do eterno conflito humano com o diferente.
No enredo, situado em um futuro distante em meio a um embate entre humanos e as hostes da Inteligência Artificial, somos apresentados a Joshua (John David Washington – sim, o filho do Denzel), um ex-agente das forças especiais que busca desesperadamente sua esposa desaparecida. Recrutado para uma missão vital, ele deve caçar e eliminar um enigmático arquiteto da Inteligência Artificial, responsável por uma arma letal capaz de pôr fim à guerra e à humanidade. No entanto, a reviravolta reside no fato de que essa arma se descobre ser nada mais nada menos do que uma criança.
Após um prólogo de tamanho considerável, a narrativa se desenrola em três partes distintas, ou capítulos, como prefira chamar, mantendo uma estrutura previsível, mas que se alinha de forma coerente com a proposta do filme. Uma das grandes virtudes do longa é a inserção de piadas orgânicas, reminiscentes de clássicos do gênero, que contribuem para uma sensação de aventura familiar com um toque nostálgico. Essas referências a obras icônicas como "O Exterminador do Futuro" e "Blade Runner" são habilmente trabalhadas, proporcionando uma conexão com o público e fortalecendo a narrativa.
Mesmo com as boas piadas e com a agradável construção gradual da relação entre o protagonista e a criança robô, a conclusão da aventura é a que mais se destaca ao oferecer sequências de ação criativas e tensas, às vezes até inesperadas. O desfecho é visualmente impactante, valorizando a experiência estética e respeitando a proposta da obra, sabiamente compreendendo que o final teria mais a ganhar pelo modo como fosse apresentado do que pela conclusão em si. O elenco desempenha bem seus papéis, alinhando-se com a proposta narrativa, enquanto a trilha sonora enriquece a atmosfera, especialmente no clímax – vale a pena conferir na melhor sala de cinema que você puder.
"Resistência" é, em resumo, uma aventura de ficção científica familiar que cumpre sua promessa ao apresentar uma narrativa clara e executá-la de forma consistente. Com seu potencial para agradar tanto o público mais jovem quanto os aficionados por uma pegada nostálgica, o filme entrega uma experiência divertida e com toques de reflexão, explorando um conflito atual e outro atemporal de maneira habilidosa.
Obs.: Deixo aqui minha profunda gratidão para a Disney e a 20th Century Fox por ter sido convidado para a cabine de imprensa do longa. Sendo eu um jornalista e produtor de conteúdo com deficiência visual, pude conferir o filme com audiodescrição, um recurso de acessibilidade que descreve os elementos visuais da obra.
Nota: 3,5/5.
“Resistência” (The Creator), Estados Unidos e Reino Unido, 2023.
Direção: Gareth Edwards.
Roteiro: Gareth Edwards e Chris Weitz.
Duração: 133 minutos.
Lucas Borba é jornalista e cocriador do Domínio Acessível. Atua como audiodescritor consultor de cinema e TV e é autor dos romances “Flores” e “Você e o fim do mundo”, publicados pela plataforma Clube de Autores. Desde a infância, é apaixonado pelo cinema e por quaisquer formas narrativas que permitam contar as melhores histórias.
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