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Crítica | “1899” (1ª temporada)

Cartaz da série "1899" (2022 - )  Foto de um navio no mar. O céu está nublado e cinza. Abaixo há um navio que solta fumaça em um imenso mar, à beira de um buraco em forma de triângulo.   Na parte superior central lê-se: "A NETFLIX SERIES" ("UMA SÉRIE NETFLIX"). No centro lê-se: "WHAT IS LOST WILL BE FOUND" ("O QUE ESTÁ PERDIDO SERÁ ENCONTRADO"). Na parte inferior lê-se: "FROM THE CREATORS OF DARK" ("DOS CRIADORES DE DARK"). Abaixo está o título: "1899". Logo abaixo lê-se: "COMING SOON" ("EM BREVE"). À direita está o logo da Netflix. Tudo está escrito em letras brancas maiúsculas, exceto o logo, que está em vermelho.


Por Lucas Borba

Importante: Confira, inicialmente, as minhas primeiras impressões a partir da prévia que recebi da Netflix, com os seis primeiros episódios da temporada, e, por fim, a atualização deste post com meu veredito final quanto ao ano inaugural da série após assistir aos dois episódios finais na data oficial de estreia da produção – a saber, hoje, 17 de novembro.

A Netflix me concedeu acesso antecipado aos seis primeiros episódios dos oito que compõem a primeira temporada de 1899, a nova produção dos criadores de Dark, o casal Baran bo Odar e Jantje Friese. Como sou um jornalista com deficiência visual, fiquei ainda mais animado ao verificar que a série conta com o recurso de audiodescrição, esse serviço de acessibilidade comunicacional tão importante que, por meio de uma narrativa em off, descreve os elementos visuais da obra.

Dito isso, antes de tudo deixo aqui minha profunda gratidão à Netflix pelo acesso à prévia e parabenizo o streaming por investir na acessibilidade, o que amplia e democratiza ainda mais o acesso à cultura e ao entretenimento, como também permite que até mesmo profissionais da imprensa com deficiência produzam conteúdo acerca dessas obras. Atuando como audiodescritor consultor desde 2015, deixo apenas um apelo a Netflix para que invista na locução de narradores profissionais para os roteiros de audiodescrição, em vez de na chamada “voz neural”, que apesar de ser bem mais agradável do que as tradicionais vozes sintetizadas, não se equipara à experiência que uma locução humana profissional pode proporcionar.

De volta à série, porém, talvez você tenha notado que iniciei este artigo dizendo que “fiquei ainda mais animado”. Isso porque quem conhece mais intimamente minhas paixões audiovisuais sabe do meu apreço por Dark, que sem pestanejar considero uma das melhores séries de todos os tempos. Para mim e para demais fãs da primeira produção alemã da Netflix, portanto, criar certa expectativa quanto à nova empreitada do casal foi algo tão inevitável quanto natural, e ao concluir os seis primeiros episódios de 1899 posso afirmar com certeza que, até agora, tal expectativa foi plenamente correspondida. Na trama, acompanhamos os tripulantes do navio Kerberos, compostos por imigrantes de diversas nacionalidades tentando buscar uma vida melhor na cidade de Nova Iorque no final do século XIX. Só que essa viagem pelo Oceano Atlântico muda por completo após o encontro com outra embarcação à deriva, o navio Prometheus, que estava desaparecido há quatro meses. Logo, coisas estranhas começam a acontecer, criando uma tensão crescente entre todos à bordo.

É preciso dizer que, assim como em Dark, a série começa morna. Com o furor que a história de Winden causou no desenrolar de suas temporadas, é fácil esquecer que pelo menos os dois primeiros episódios nos foram apresentados apenas com a premissa de um garoto desaparecido e aos poucos é que a trama revela a sua real dimensão. Em 1899, acontece exatamente a mesma coisa, com a diferença de que o cozimento aqui se dá em um fogo ainda um tanto mais baixo. Quem estiver com um senso de observação aguçado – incluindo quem assistiu a Dark -, no entanto, possivelmente notará que algo parece fora de contexto no princípio da temporada. Cada episódio foca na história pregressa de um dos ocupantes do Kerberos, à medida que o mistério aberto pelo encontro do navio perdido, que aparenta estar completamente vazio e largado às traças, se desenrola, mas além dos fenômenos estranhos que passam a ocorrer, alguma coisa soa falsa - para não dizer superficial - nas histórias e no convívio entre os personagens, ao ponto de que, para o espectador desavisado, nos primeiros capítulos pode-se pensar que a própria narrativa está perdida e desprovida de um bom ritmo na execução de si mesma. Na transição do quarto para o quinto episódio, contudo, a extensão da trama se revela de forma estupenda, a série enfim mostra a que veio e compreendemos que a inicial sensação de falsidade narrativa talvez tenha sido intencional por parte dos criadores. Não só começamos a nos identificar verdadeiramente com os tripulantes e a nos importarmos com tudo pelo que estão passando, como o universo da série finalmente desfila diante de nós como o melhor dos presentes, com uma surpresa nova a cada esquina, e a nossa paciência é mais do que recompensada.

O melhor de tudo é que, se por um lado a série trabalha com a mesma fórmula estrutural de Dark, por outro apresenta uma história e um universo totalmente novos e cheio de possibilidades. Veja bem, já nos primeiros episódios não é tão difícil compreender, em parte, do que se trata o mistério de 1899, mas para além do que sabemos e de tudo o que não sabemos o que vale é a forma como as coisas nos vão sendo mostradas a partir da grande virada – o bom e velho storytelling. No princípio da narrativa, inclusive, os personagens que mais se destacam certamente são Maura Franklin (Emily Beecham), uma médica que está em busca do irmão desaparecido, e Eyk Larsen (Andreas Pietschmann), o capitão do Kerberos, com profundas marcas de um passado tenebroso, mas após o ponto de virada o palco logo brilha com o grupo de personagens de nacionalidades distintas, também graças ao ótimo elenco.

Para a composição da trilha sonora, os criadores repetiram a parceria de Dark com Ben Frost, que trabalha bastante com sintetizadores e tambores, em certos momentos me lembrando a trilha sonora do último Duna (2021). O uso de vozes aparece eventualmente nas composições, configurando-se como mais um elemento que, sagazmente, remete a Dark ao mesmo tempo que apresenta algo novo. A presença de algum clássico do rock ao final de cada episódio também marca essa primeira temporada. Aqui tenho apenas uma ressalva quanto à mixagem da audiodescrição, que ao baixar demasiadamente o volume da obra com o intuito de ser melhor ouvida acaba dificultando a boa audição da trilha sonora e, em alguns momentos, até mesmo abafa parcialmente certas falas de personagens.

Uma das séries mais aguardadas do ano, 1899 sem dúvida começa com o pé direito e pode se tornar mais um grande sucesso da Netflix. Os oito episódios da primeira temporada chegam ao catálogo do streaming nesta quinta-feira, no dia 17 de novembro, quando publicarei aqui no blog o meu veredito final acerca da temporada.

Os criadores da série já revelaram que, assim como em Dark, querem contar essa história em três temporadas e, no momento, minha torcida para que todas elas sejam confirmadas não poderia ser maior. Por isso, não deixe de embarcar no Kerberos nesta quinta-feira!

Veredito final

Neste 17 de novembro, quando atualizo o post de primeiras impressões com o veredito final da primeira temporada de 1899, os oito episódios que a compõem estrearam oficialmente no catálogo da Netflix. Ao assistir aos dois episódios finais que faltavam, após os seis primeiros que recebi na prévia, é incrível sentir que, ao menos para mim, apesar de começar morna como os capítulos iniciais de Dark, a temporada termina talvez até mais arrebatadora do que a parte inaugural da primeira produção alemã do streaming.

Como é bom desfrutar de uma obra com tamanha qualidade e, mais do que isso, admirar a esperteza e o trabalho narrativo de Baran bo Odar e Jantje Friese, que, como declararam, conseguiram realmente usar o DNA de Dark para nos levar a um novo universo e ao melhor que a ficção científica pode nos proporcionar. Se acompanhar a série, recomendo veementemente que se aprofunde nas diversas referências imagéticas, literárias e sonoras apresentadas ao longo dos episódios, debata com seus colegas, amigos e familiares e confira materiais a respeito de 1899 de produtores de conteúdo distintos – inclusive- é bem provável que falemos mais acerca da série aqui no Domínio Acessível antes da segunda temporada -, pois a narrativa nos oferta uma experiência imersiva e refletir sobre todos os questionamentos que o programa suscita não só amplia, e muito, o proveito que podemos tirar da trama, como torna a espera pela temporada seguinte menos angustiante.

Sem falar que, quanto mais tratarmos de 1899, mais cedo a Netflix pode confirmar a segunda das três temporadas que o casal de criadores tem em mente. Afinal, como a própria série nos mostra, quanto mais nos unimos na quebra de barreiras para um bem comum, mais longe podemos chegar.

Nota: 5/5

“1899” – 1ª temporada, episódios 1 a 66 – Alemanha, 2022.

Criação: Baran bo Odar e Jantje Friese.

Duração: 60 minutos por episódio (em média).

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Comentários

  1. Excelente crítica!

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    1. Gratidão, colega. Interaja sempre conosco aqui no blog! Já temos mais conteúdo sobre a série em nosso canal no Youtube!

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    1. Muito grato, colega. Será sempre ótimo contar com sua interação aqui com a gente!

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  3. Adorei a crítica, Lucas! Também espero que os fãs de Dark se lembrem de que ela também começou morna e só começou a ganhar corpo a partir do terceiro ou quarto episódio. Acho que o único empecilho no caminho do Bo e da Jantje é se livrarem das expectativas criadas por Dark. Se conseguirem, aposto muito que 1899 chegará a mesma grandiosidade da irmã! Abraço!

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    1. Opa, grande Léo, realmente. O bom é que por ser vendida como uma produção internacional, 1899 tem potencial para englobar um público ao menos um pouco mais amplo do que Dark, tenho visto uma galera se engajando com a série que parecia ter uma resistência maior de quando se falava de uma produção somente falada em alemão - apesar das opções de dublagem e tudo mais, veja bem. [hehehe]

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