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Crítica | “Wandinha” (1ª temporada)

Cartaz da série "Wandinha" (2022 - )  Foto de uma jovem de preto. A jovem é vista em pé, no centro do cartaz, ligeiramente virada para a esquerda, de baixo para cima, olhando para a frente. Ela é branca, de cabelo preto liso, dividido ao meio em duas tranças e com franjas. Tem olhos pretos, usa batom amarronzado, unhas pretas, vestido preto e um blazer com listras verticais pretas e cinzas e que tem um escudo preto bordado no peito esquerdo. Ela segura um guarda-chuva preto que a protege da chuva que cai ao redor dela de um céu escuro com nuvens.   Ao fundo, veem-se silhuetas de torres também escuras.   Na parte superior central lê-se: "DA MENTE ALUCINANTE DE TIM BURTON". Na parte inferior central lê-se: "UMA SÉRIE NETFLIX WANDINHA". Logo abaixo está a data de estreia: "23 de novembro". À direita está o logo da Netflix. Tudo está escrito em letras brancas maiúsculas, exceto pelo logo da Netflix, que está em vermelho.


Por Lucas Borba

Em uma época na qual as discussões acerca da reparação para grupos historicamente discriminados e perseguidos reacendeu a todo vapor, é sempre ótimo quando uma produção que promete dar protagonismo aos chamados “desajustados” e com potencial para conversar com um grande público é anunciada. Foi o caso de Wandinha, baseada no icônico universo de A Família Addams, cujas histórias em quadrinhos originais já renderam adaptações para o cinema e para a TV que permeiam gerações.

A releitura da Netflix atualiza os exóticos personagens para tempos de TikTok e concentra a narrativa principalmente em um dos membros da família, a adolescente Wandinha (Wednesday, no original, interpretada pela excelente Jenna Ortega). Na trama, acompanhamos as aventuras da protagonista, que, depois de ser expulsa da última escola em que estudava, é enviada pelos pais para a Academia Nunca Mais (Nevermore, no original), na qual também foram alunos durante a adolescência. Lá, além de tentar – ou não – fazer amigos, Wandinha terá que aprender a dominar suas habilidades paranormais e, talvez, resolver um mistério de assassinatos em série.

A Netflix me concedeu acesso antecipado aos oito episódios da primeira temporada, que estreia nesta quarta-feira, no dia 23 de novembro, no catálogo do streaming. Agradeço a Netflix pela oportunidade e parabenizo a empresa por cada vez mais investir na acessibilidade comunicacional dos seus conteúdos, incluindo o serviço de audiodescrição em português na série – um serviço que descreve os elementos visuais da obra para pessoas com deficiência visual, como eu próprio, por meio de uma narração em off. Como audiodescritor consultor desde 2015 e jornalista, posso afirmar que tal recurso de acessibilidade não apenas amplia o público potencialmente contemplado pela Netflix, como permite que produtores de conteúdo com deficiência, como eu, também possam produzir um material de qualidade acerca de nossas experiências com essas narrativas.

Dito isso, antes de tudo é preciso pontuar que Wandinha, em primeira instância, é uma série pensada para um público adolescente – o que não impede, obviamente, que eventualmente algum adulto também se identifique com o programa. A garota compartilha a natureza considerada mórbida da família e tem gostos peculiares, apreciação por cadáveres, exumações e um humor bastante questionável, características que baseiam o bom e velho conflito de uma personagem adolescente que precisa encontrar sua identidade e descobrir seu lugar no mundo – não por acaso, a protagonista é enviada para uma academia de excluídos que, ainda assim, agem como se ela fosse a mais estranha do grupo. Uma investigação criminal e pitadas de magia sobrenatural completam a fórmula da produção, um show que só não fica acima da média por não ousar mais nos roteiros dos episódios e subestimar a inteligência do público-alvo.

Tecnicamente, a série está muito bem servida, contando com ninguém menos do que Tim Burton como produtor executivo, que também dirige o primeiro episódio. O mistério central da temporada – mesmo contando com uma resolução previsível, descobrir o vilão antes que a trama o revele não é uma tarefa exatamente difícil – é engajante em seu desenvolvimento, não pela resolução em si, como dito, mas pelos desdobramentos envolvidos no processo investigativo, pelos ambientes sombrios percorridos e, particularmente, pela forma como a progressão narrativa trabalha em favor da construção de personalidade da heroína – certamente, o ponto alto da série. Verdade seja dita, no primeiro episódio Wandinha parece apenas uma adolescente chata, mas com o avanço dos capítulos vamos nos aprofundando nas camadas dessa personagem, que, se por um lado se revela muito mais humana do que transparece a princípio, nunca dá exatamente o braço a torcer, encontrando sempre um jeito próprio até mesmo para reconhecer um erro. O quinto episódio, no qual Wandinha divide o protagonismo com a mãe Morticia (Catherine Zeta-Jones) e Gomez (Luis Guzmán) é um dos mais vívidos da temporada e traz à tona o que de melhor se observa da influência de Tim Burton para a história.

Sem as pontuais quebras de ritmo graças a clichês adolescentes pouco inspirados e com um mistério que valorizasse mais seus pontos altos, Wandinha poderia chegar ao patamar de um clássico adolescente contemporâneo para a televisão, a exemplo de títulos como “Buffy, a Caça-Vampiros” no final dos anos 90. É, contudo, uma adição divertidamente sombria ao catálogo da Netflix para tiktokers de plantão.

Nota: 3/5

“Wandinha” (Wednesday) – 1ª temporada, EUA, 2022.

Criação: Alfred Gough e Miles Millar.

Duração: 50 minutos por episódio (em média).

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