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Crítica | “O clube da meia-noite” – 1ª temporada

Cartaz da série "O Clube da Meia-Noite" (2022)  Ilustração em preto-e-branco de uma caveira. Na altura da boca da caveira há a silhueta de oito pessoas em pé, uma ao lado da outra. O fundo é escuro e há riscos brancos sobre a ilustração.   Na parte superior, em letras pretas maiúsculas, lê-se: "DEATH IS A RITE OF PASSAGE" ("A MORTE É UM RITO DE PASSAGEM"). Na parte inferior, abaixo das silhuetas, em letras amarelas na diagonal, lê-se: "The Midnight Club" ("O Clube da Meia-Noite"). Logo abaixo, em letras brancas maiúsculas, está a data de estreia: "OCT 7" ("7 DE OUTUBRO"). À direita está o logo da Netflix em vermelho.


Por Lucas Borba

Mike Flanagan já se tornou um criador de destaque no catálogo da Netflix com suas obras de terror, a começar pelo bastante elogiado “Hush: A Morte Ouve” (2016). Em “O clube da meia-noite”, ele adapta o livro infanto-juvenil de Christopher Pike, tendo a primeira temporada 10 episódios com cerca de uma hora cada.

Ao assistir à série, foi impossível não lembrar de “Clube do terror”, série que marcou os anos 1990 e que, no Brasil, era transmitida pela Nickelodeon e pela RecordTV. Tal semelhança, porém, termina no fato de um grupo de jovens se reunir de madrugada para contar histórias de terror. No mais, a narrativa da série desenvolve uma trama principal em paralelo, trama essa na qual residem os problemas da produção, problemas em parte ocasionados, inclusive, na busca pelo diálogo entre a trama central e as referidas histórias de terror.

Na série, sete jovens com doenças terminais passam os últimos dias de vida no hospício Rotterdam Home. A casa é administrada por uma médica enigmática (Heather Langenkamp) e toda meia-noite os adolescentes se reúnem no porão para trocar histórias assustadoras entre eles. Certa noite, eles fazem um pacto: o primeiro a sucumbir à doença ficará responsável pela comunicação com os demais no além. Ao mesmo tempo, eventos misteriosos assolam o hospício, que possui um passado nebuloso, e Ilonka (Iman Benson), uma das integrantes do grupo, acredita que a casa esconde um poder antigo capaz de curá-los.

Infelizmente, até agora a série não conta com o recurso de audiodescrição em português, esse recurso de acessibilidade comunicacional tão importante para pessoas com deficiência visual, como eu; serviço esse que descreve, por meio de uma narração em off, os elementos visuais que se passam na tela. Deixo aqui o meu apelo para que a Netflix passe a incluir a audiodescrição não apenas no idioma original, mas também nos idiomas dublados de todas as suas produções.

Como é de se esperar de Mike Flanagan e da própria Netflix, tecnicamente a série funciona bem, com uma boa ambientação, uma trilha incidental comedida e competente, que dialoga adequadamente com a progressão narrativa e com momentos de tensão, e o elenco jovem está bem engajado. Os problemas estão no roteiro. Não li a obra de Christopher Pike, por isso estou me baseando unicamente no que foi apresentado na série em termos de narrativa para esta análise. A questão é que, apesar das histórias de terror narradas pelos próprios jovens e do teor da trama principal, a produção acaba soando indecisa sobre querer ser mais um terror, um drama ou algo entre as duas coisas. Se considerarmos a primeira ou a segunda opção, não funciona - porque ora quer ser uma coisa, ora outra -, e quanto à terceira opção, um equilíbrio entre ambos os gêneros, que também poderíamos chamar de um terror psicológico, o balanceamento é desproporcional, porque, mesmo na situação trágica enfrentada pelos personagens com a eminência da morte, em fins de ritmo narrativo há pouco terror no drama, ou pouco drama no terror.

No máximo, as histórias contadas pelos jovens no clube, que de fato compõem os momentos mais interessantes da temporada, evocam diretamente os conflitos e sentimentos de cada adolescente - tanto que são protagonizadas por versões alternativas deles próprios -, mas o mesmo nível de projeção não se apresenta na trama principal, o que gera uma demasiada quebra de ritmo. Fora das histórias, os eventos inexplicáveis e potencialmente sobrenaturais são muito espaçados entre si e, o mais importante, geram poucos avanços relevantes para a trama. Outro problema recai sobre atitudes pouco convincentes para jovens teoricamente tão versados no terror e em seus subgêneros, que pouco questionam a natureza de um suposto poder de cura que precisa de um ritual de sangue para ser evocado. Por mais que a situação dos jovens possa justificar tal desespero por parte deles, para um público não necessariamente tão ingênuo, e que ao longo de toda a temporada acompanha histórias que falam justamente sobre as consequências de se mexer com certas coisas, de seguir por certos caminhos, é frustrante engolir que a única adolescente a questionar o ritual dependa de uma base religiosa específica para isso. Mesmo inconscientemente, é como se a narrativa dissesse ao público: “Esses jovens parecem inteligentes, só que na verdade são burros, mas você, expectador, é ainda mais burro, então talvez os contos de terror não sejam claros o bastante, por isso vamos reforçar a mensagem e deixar tudo bem mastigadinho para você na trama principal”.

A verdade é que, se apresentada somente como uma antologia de terror, “O clube da meia-noite” poderia ser bem mais interessante. Com uma premissa promissora e tecnicamente competente, porém equivocada em escolhas de roteiro e com um clímax subaproveitado no final da temporada, a produção deve em breve ser obscurecida por outros títulos do streaming.

Nota: 3/5

“O clube da meia-noite” (The Midnight Club) – 1ª temporada – EUA, 2022

Criação: Mike Flanagan e Leah Fong (baseado em obra de Christopher Pike)

Duração: 60 minutos por episódio (em média)

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