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Crítica | Quem tem medo? (2022)

Foto de um homem sentado que abraça os joelhos. Ele é visto de cima, com a cabeça baixa e os braços em volta dos joelhos. É branco, tem cabelo preto e curto e está de costas, pernas e braços nus. O fundo é preto e o chão é rosado.   Na parte superior central está um logo ilegível e abaixo estão os nomes dos artistas participantes. No centro está o logo do Festival É Tudo Verdade e, embaixo, o título: "Quem Tem Medo?". Logo abaixo estão os nomes dos realizadores. Na parte inferior estão os nomes dos membros da equipe técnica e os logos da SPCine, da São Paulo Capital da Cultura e da Secretaria de Cultura de São Paulo. Tudo está escrito em letras brancas.

Confira a crítica em vídeo clicando neste link.

Por Lucas Borba


Para falarmos a respeito de um documentário, temos de compreender que dois elementos devem inevitavelmente ser levados em conta: o caráter jornalístico da produção e a sua narrativa – o famoso storytelling. É claro que toda matéria ou reportagem também necessita de uma narrativa, mas em um documentário espera-se que este segundo elemento desempenhe um papel ainda mais evidente para enfatizar o caráter humano envolvido na pauta em questão.

Enquanto produção jornalística, porém, o modo como o storytelling é aplicado também auxilia ou não na valorização da narrativa em termos de apuração ou investigação. Sem dúvida, o lado humano está mais do que presente no documentário “Quem tem medo?”, da Embaúba Filmes, com direção de Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr, que estreia nos cinemas no dia 4 de agosto. Tive acesso como jornalista do veículo Câmera Cega, agora pertencente ao grupo Domínio Acessível, a uma cabine de imprensa online do documentário e registro aqui minha gratidão a Embaúba Filmes pela oportunidade. Sendo eu uma pessoa com deficiência visual total, apenas deixo como sugestão que, quando possível, o recurso de audiodescrição seja incorporado também às cabines de imprensa, para que um jornalista com uma deficiência como a minha possa dispor das mesmas condições que os demais para a produção das críticas. Dito isso, por sorte em ocasiões como essa posso contar com o apoio da minha parceira profissional e na vida, a também escritora e cinéfila Vanessa Delfino, que eventualmente também escreverá para o blog e me descreve o conteúdo imagético das produções quando necessário.

Voltando ao documentário, como dito o caráter humano da produção é inegável. A sinopse da obra informa que o documentário denuncia ações de censura do mais recente Governo Federal dirigidas para artistas e suas performances, ações estas que estariam crescendo constantemente. A produção se concentra em artistas atuantes na capital paulista e arredores, embora alguns desses profissionais tenham se apresentado inclusive no exterior. Conforme os casos desses artistas nos vão sendo expostos pela narrativa, logo fica claro que as denúncias partem de profissionais representantes de minorias historicamente e ainda extremamente excluídas e violentadas de formas distintas no país, como pessoas LGBTQIA+ ou em situação econômica incerta. Algumas das apresentações registradas pelo documentário impactam por falar sobre essas feridas sociais pelas bocas e pela expressividade de quem as vive e sente cotidianamente, enquanto outras performances nos fazem refletir sobre quais as melhores estratégias para gerar empatia e movimentos de mudança positivos genuínos dessas realidades.

O problema é que, justamente sobre alguns dos casos que mais impactam e instigam esse tipo de reflexão, de questionamento, uma revisão de valores, é que falta requinte na apuração jornalística ou documental. Em termos de formato narrativo, a produção alterna entre vídeos de arquivo com apresentações dos artistas, audiências, pronunciamentos e declarações de autoridades, e fica por aí mesmo. Assim, quando ouvimos, por exemplo, um dos artistas denunciar uma instituição bancária de censura, esperamos ao menos por uma inscrição do tipo: “Nossa equipe tentou entrar em contato com a instituição X, mas não obteve retorno”. Tal aviso ou algo parecido, no entanto, não acontece.

“Quem tem medo?” é um documentário necessário sobre uma questão sociopolítica urgente, que só perde força por não impactar com sua narrativa tanto quanto os próprios artistas que retrata, por não incorporar com o devido zelo o elemento jornalístico ao seu storytelling. Agora, mais do que nunca, precisamos de narrativas reais que, ao contrário e a favor de seus personagens, não caiam no esquecimento.

Nota: 3,0 / 5

Quem tem medo? (Brasil, 2022)

Direção: Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr

Duração: 70 minutos

Hashtags: #quemtemmedo #embaúbafilmes #documentário #cinemanacional #documentárionacional #arte #cultura #cinema #cinemanacional #acessibilidade #inclusão #audiodescrição

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