Pular para o conteúdo principal

Crítica | “Dark Web: Cicada 3301” (2021)

Cartaz do filme "Dark Web: Cicada 3301"  Fotomontagem com uma borboleta iluminada por uma luz azul neon, de asas abertas, nas quais estão os rostos de quatro pessoas: uma mulher e três homens. Todos olham sérios para frente. Na asa esquerda está a mulher e um homem. Os dois são brancos. Na asa direita está outro homem branco e um homem negro.   O fundo é preto com os números 0 e 1 em azul escuro repetidos e espalhados pelo cartaz.  Na parte superior, estão os nomes dos atores principais em letras azuis claras maiúsculas: "JACK KESY", "CONOR LESLIE", "AND ("E") ALAN RITCHSON". Logo abaixo está o título em letras brancas maiúsculas: "DARK WEB: CICADA 3301". Na parte inferior, também em letras azuis claras maiúsculas, lê-se: "A TRUE HACKER STORY THAT NEVER HAPPENED" ("A VERDADEIRA HISTÓRIA DE UM HACKER QUE NUNCA ACONTECEU").

Por Lucas Borba

Quanto mais uma narrativa sabe qual tom ou quais tons usar para a história que deseja contar, melhor será o seu resultado final. “Dark Web: Cicada 3301” tem bem amadurecidas tais escolhas narrativas.

Observar essa maturação, diga-se de passagem, é empolgante, já que este é o primeiro filme dirigido pelo ator e produtor americano Alan Ritchson, que chega aos cinemas brasileiros no dia 1º de setembro, com distribuição da A2 Filmes. Tive acesso à cabine de imprensa digital promovida pela distribuidora e agradeço a oportunidade. Infelizmente, por enquanto filmes independentes exibidos em um número menor de salas de cinema não têm a obrigação de disponibilizar a obra com audiodescrição, esse recurso de acessibilidade comunicacional tão importante a um jornalista como eu, que sou uma pessoa com deficiência visual, e claro, ao público em geral na mesma condição.

Para quem não sabe, a audiodescrição descreve por meio de uma narração em off os elementos visuais que aparecem na tela durante o filme. No cinema, as pessoas com deficiência visual utilizam fones de ouvido conectados a um receptor e ouvem a audiodescrição sem que a presença do recurso atrapalhe o restante do público que não precisa do serviço. Uma boa notícia é que a A2 Filmes já está conseguindo disponibilizar cópias dubladas desde a cabine de imprensa para jornalistas e Influencers, facilitando assim o acesso a tais eventos e permitindo que mais produtores de conteúdo divulguem os filmes.

Na trama, acompanhamos as aventuras e desventuras de um trio um tanto exótico: o hacker Connor (Jack Kesy), seu melhor amigo Avi (Ron Funches) e a jovem bibliotecária Gwen (Conor Leslie), que se envolvem em um sofisticado jogo de recrutamento global de uma sociedade secreta da Dark Web. Pela divulgação do filme à qual tive acesso se referir a ele como um suspense, é verdade que minhas expectativas foram abaladas nos minutos iniciais do longa pelos primeiros indícios de deboche narrativo, e temi que a produção, no mínimo, se perdesse na tarefa de definir o tipo de história que pretendia contar e, no máximo e pior das hipóteses, ficasse restrita a um humor pastelão barato, mas não é o que acontece.

Embora o filme obviamente não se leve a sério – e é isso o que o espectador deve ter em mente -, trata-se de uma sátira divertidíssima, mas também escapista à medida que aborda com uma dose bem calculada de amor ácido temas delicados, densos e pertinentes como a marginalização de grupos sociais, a comunhão entre pessoas tidas por desajustadas, a elitização e a alienação impulsionada por um mundo consumista e envolto em telas. Como dito, porém, todos esses temas vêm à tona com leveza considerável nos momentos certos e equilibrados com sequências em que o referido suspense é pensado para se encaixar devidamente no conjunto, conforme vamos nos identificando com os personagens e suas excentricidades, motivações e bobeiras, e com a natureza das ameaças. O longa esbanja em referências à cultura pop e brinca com obras de teoria da conspiração, espionagem e aventuras de caça ao tesouro, todos elementos reciclados, como a própria indústria cultural adora fazer, mas que funcionam muito bem no modo como empregados no todo narrativo para o efeito satírico.

“Dark Web: Cicada 3301” é um filme inusitadamente divertido, que entrega bem mais do que parece capaz a princípio e, por isso mesmo, se revela como uma surpresa muito bem-vinda. Vale acompanhar a carreira desse diretor que, já em seu primeiro trabalho nesse posto, mostra que é necessária bastante autoconsciência e competência mesmo para não se levar algo a sério.

Nota     : 4/5

“Dark Web: Cicada 3301 (Idem, EUA, 2021)

Direção: Alan Ritchson

Roteiro: Alan Ritchson, Joshua Montcalm

Duração: 104 minutos.

Hashtags: #paracegover #paratodosverem #paratodomundover #paratodosveremmais #audiodescrição #descriçãodeimagem #descrevipravocê #acessibilidade #inclusão #cultura #culturapop #arte #audiovisual #recursosinclusivos #cinema #darkweb #darkwebcicada3301 #a2filmes

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica | "Oppenheimer" (2023)

Cartaz nacional do filme "Oppenheimer"(2023), de Christopher Nolan. Por Vanessa Delfino O filme "Oppenheimer" (2023), do Christopher Nolan, estreou dia 20 de julho, junto com "Barbie"(2023), da Greta Gerwig, e ambos os filmes já são verdadeiros marcos do cinema. Juntos, eles arrastaram milhões de pessoas às salas de cinema do Brasil e do mundo e o mais legal: como parte da muito bem-sucedida campanha de marketing, muitas pessoas foram assistir a ambos no mesmo dia (inclusive nós, Lucas e Vanessa). Lembrando que "Barbie" tem duas horas de duração e "Oppenheimer" tem três. Ou seja, são cerca de cinco horas dentro de uma sala de cinema e as pessoas estão indo, mesmo com a gente vivendo na era do streaming. Nada que bons filmes e uma boa campanha de marketing não possam fazer, não é? Mas vamos a Oppenheimer: o filme é realmente bom? Sim. "Oppenheimer" é, sem dúvidas, uma obra de arte cinematográfica. Com certeza, já pode ser consi...

Crítica | Resistência (2023)

Cartaz do filme "Resistência" (2023) Por Lucas Borba “Resistência" (2023) é um filme que exemplifica como a ficção científica pode transcender suas raízes e se tornar uma metáfora impactante para os conflitos atemporais que marcam a história da humanidade, ao mesmo tempo em que dialoga com questões prementes da sociedade contemporânea. Não por acaso, histórias de viagem interestelar tinham um significado específico durante a Guerra Fria, mas continuam a fazer sucesso até hoje ao evocar o eterno fascínio humano pelo desconhecido, pelo inexplorado. Em “Resistência”, a trama mergulha de cabeça na discussão sobre Inteligência Artificial, um tema inebriante e urgente nos bastidores da indústria cinematográfica e na sociedade como um todo, enquanto também se apropria do eterno conflito humano com o diferente. No enredo, situado em um futuro distante em meio a um embate entre humanos e as hostes da Inteligência Artificial, somos apresentados a Joshua (John David Washington – si...

Baile no Galpão

Dança típica de casal gaúcho      Por Vó Pema (Iracema Soares de Lima)      Jovenal, dono de uma estância com mais de mil cabeças de gado: um rebanho de ovelha a perder de vista.       Em uma manhã, antes do clarear do dia, Jovenal com os peões saíram, em uma campereada pelos campos. Tinha uma cerração fria, era começo da primavera. Aquela época em que os campos estão verdes e as flores rasteiras estão brotando em cores variadas de azul e amarelo. No horizonte, os primeiros sinais que a majestade, o sol, está chegando, vermelho com labaredas em formato de uma enorme bola de fogo. Passados alguns segundos a bola vai se transformando em cor de ouro, os raios começam a dar brilho: difícil de olhar para eles de olho nu. Maravilha criada por nosso Deus eterno, na campanha todas as manhãs, quando nasce o sol. Logo a cerração começa a baixar e o sol brilha.      Jovenal, cria da terra (para melhor entendimento, nascido e criado a...